Trabalhos 2023
Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (Setúbal)
Escalão 1: jardins de infância e escolas de 1º ciclo
Árvore de Natal no espaço escola:
Símbolos FSC e Tetrapak:
Pormenor da árvore:
Elaboração do trabalho (3 fotos):
Memória descritiva:
- E se o Natal fosse em Dezembro, coincidente com as festas saturninas e o solstício de Inverno, de matriz pagã, em vez de Abril ou Maio?- E se fizéssemos um presépio com as personagens principais da natividade e ainda o figurado clássico do universo rural?
- E se criássemos um reportório específico do Natal inspirado no cancioneiro popular e tradicional?
- E se pintássemos o Pai Natal de Vermelho e o puséssemos a distribuir as prendas em vez de ser o Menino Jesus a descer pela chaminé, de madrugada, para as depositar no sapatinho?
- E se a árvore de Natal passasse a ser amarela?
Podem não ter sido estas as perguntas fraturantes no imaginário natalício ou, tendo elas assumido essa condição, podem não ter sido embebidas em tamanha candura e ingenuidade, como se o Natal sempre tivesse sido sortilégio de crianças e o Menino poupado às contradições e estratégias da geopolítica, das artes e da cultura, do marketing comercial.
E se uma mão cheia de dúvidas e angústias escolhemos para este pueril roteiro existencial, que crianças sempre somos quando nos atrevemos a questionar, depuremos o espólio de tralha anacrónica e poeiras celestiais, centrando-nos na interpelação sacramental:
- E se pintássemos a árvore de Natal de amarelo?
- O que vos diz o amarelo? – quis a colega da sala aproximar a pergunta dos alunos, convocar o seu património experiencial.
- O que é que nós pintamos de amarelo? – aprofundou o trilho encetado a professora inicial, tornando ainda mais concreto, ainda mais real, quiçá sensorial, o exercício preliminar.
- Pintamos o sol! – exclamou o aluno mais espevitado, a estrela mais luminosa, vistosa e vibrante da sala.
Se tivesse acedido ao google, como os seus colegas de outros ensinos e de outras escolas procedem com uma frequência e uma dependência preocupantes, teria acrescentado, sem citar a fonte, que o amarelo “significa luz, calor, descontracção, optimismo e alegria”.
Ainda acrescentaria, provavelmente sem aspas, que “o amarelo simboliza o sol, o Verão, a prosperidade e a felicidade. É uma cor inspiradora e que desperta a criatividade. Estimula as atividades mentais e o raciocínio”.
Aduziria, querendo também ataviar-se de criança curiosa, culta e viajada, a evocação da intensidade do amarelo nas telas de Van Gogh e deambular, fluente e prolixo, pela extensa paleta dos amarelos, diluindo e mesclando sentimentos e espiritualidades convencionais.
Ao “nosso” aluno bastou o sol para entender quão natural seria pintar um dos elementos centrais do amplexo natalício de amarelo. Indiferente às contendas do olimpo, não o embaraçou adormecer o Rei Menino nos braços protetores do Rei Sol.
E se todos os seus colegas, e se todas as famílias, e se muitas outras pessoas da comunidade se empenharam no preenchimento das manchas soalheiras, a ninguém ocorreu estranhar a pintura de uma árvore de Natal em amarelo, como se de uma árvore sol se tratasse.
Afinal, talvez o amarelo seja a sua cor natural.